Comer em Tiradentes é uma festa para o paladar, o olfato e os olhos. “A cozinha mineira é um marco histórico, faz parte de nossa cultura, história, tradição”, afirma Rummenigge Zanola, chefe executivo do restaurante Barouk. A prova é que a Abrasel, entidade que representa bares e restaurantes, abriu uma unidade no Campo das Vertentes. 
 
Zanola, presidente regional da entidade, acredita que a proposta do governo estadual de transformar a cozinha mineira em patrimônio imaterial pode, inclusive, dar mais visibilidade a Tiradentes, que ele define como o “berço da gastronomia” e “sede do festival gastronômico do país”. “O evento começou em 1996/1997 e está vivo até hoje”, salienta. 
 
Zanola é uma das referências em culinária contemporânea. Um de seus pratos mais famosos é a cama de batata-baroa, ora-pro-nóbis e costela suína semidefumada, uma releitura do frango com ora-pro-nóbis, e o frango com quiabo (coxa e sobrecoxa, angu, arroz e legumes), sem perder a característica, cor e sabor do prato original. A sobremesa é um creme de ovos caipiras com musseline de doce de leite na cama de figos e pêssegos em calda. 
 
“Tiradentes está vivendo um terceiro ciclo. O primeiro foi o da prata e do ouro; o segundo, do polo moveleiro e do artesanato; o terceiro, o da gastronomia e hotelaria”, resume.  Antes a comida vinha em a de ferro, hoje é em um prato com arte. O público está à procura disso, são os novos clientes, a clientela que quer apreciar a boa gastronomia”, acrescenta. 
 
A cozinha contemporânea foi um divisor de águas em Tiradentes. Nesta matéria, nossas dicas abraçam as duas cozinhas: a tradicional, tipicamente mineira, como os restaurantes Padre Toledo e Empório Santo Antônio, e os contemporâneos, como Atrás da Matriz e Ateliê Gastronômico, provando que Tiradentes pode ser ao mesmo tempo simples e sofisticada. 
 
 
Tagliarini frito com molho de linguiça da roça e raspas de queijo, prato do Ateliê Gastronômico
 

 

Ateliê Gastronômico 

 
 
O Ateliê Gastronômico é um achado em Tiradentes. O espaço é belissimamente bem-decorado, com lounge para o público aguardar uma mesa, pergolados com mesas decoradas e velas, canteiros, fontes de água e objetos, como portas, janelas e grades, oriundos de antigos casarões. O cliente pode escolher o espaço ao ar livre ou os ambientes internos. 
 
Tudo é fonte de inspiração para o chef Higor Braga, 38, que estende sua criatividade para o cardápio. Ele não esconde a influência sa e a paixão pela cozinha contemporânea, mas faz questão de rechear suas receitas de mineiridade. “Todos os pratos têm algum ingrediente específico de culinária mineira”, frisa. Entre eles, o ora-pro-nóbis e os queijos. 
 
Braga privilegia os produtos mineiros e frescos, de boa procedência. Ele é, por sinal, um dos chefs que utilizam os ingredientes dos produtores da Rota dos Sabores e movimentam a cadeia produtiva no município. Inclusive, os pratos foram criados para serem acompanhados por Luis Porto, vinho mineiro versátil e encorpado, capaz de harmonizar com diversos pratos. 
 
Escolhemos como entrada caponata de jiló, geleia de laranja e wassabi, chutney de manga e maracujá, cebola no caramelo de pimenta, patê de fígado, geleia de frutas vermelhas, tortilhas, pães artesanais e queijos. Como pratos principais, a costelinha defumada no caramelo de hortelã com purê de maçã-verde e farofa crocante de amendoim e o tagliarini frito ao molho de linguiça da roça ou pomodoro e raspas de queijo. E, como sobremesa, o doce de leite frito com banana exótica, farofa de amendoim e sorvete de manjericão. 
 
Braga reconhece que a cozinha contemporânea tem uma gama de ingredientes e diversidade (“ela te dá uma oportunidade de brincar”). Os pratos vêm preparados como uma obra de arte e são para comer de joelhos.
 
 
A costela no bafo do Empório Santo Antônio
 

 

Empório Santo Antônio 

 
 
Fora do circuito turístico, no bairro Parque das Abelhas, o Empório Santo Antônio fica bem do lado da prefeitura, no bairro Parque das Abelhas. O casal Soraia Carvalho, 48, e Alexandre Nascimento, 46,
abriu a casa em 2002, há 19 anos, depois se profissionalizarem no Sebrae. Eles se definem “cozinheiros”, não chefs de cozinha. 
 
O cardápio tem comida mineira bem-feita e farta. Bochecha de porco, costela no bafo, feijão tropeiro, linguiça de lombo. O Empório Santo Antônio é um dos restaurantes queridinhos dos turistas. “Eu adorava cozinhar, mas não imaginava vir trabalhar com cozinha regional”, confessa ela. “Queremos oferecer ao cliente o que a gente come em casa”, emenda Nascimento. 
 
Entre os ingredientes que utilizam estão a coalhada seca, o tomate com gengibre, a geleia com pimenta e a caponata de berinjela. Nos finais de semana, o casal de cozinheiros monta um bufê com bacalhau e caldeirada de frutos do mar, quando faltam insumos. O casal fica feliz quando ouve de um cliente que a “comida feita no fogão a lenha lembra a da casa da avó”. 
 
Uma dica é experimentar a costela no bafo, um sucesso entre os clientes. Soraia considera que o selo da cozinha mineira e um título de patrimônio imaterial vão aumentar ainda mais a fama da cidade na gastronomia. “É uma cozinha sincera, de afetividade”, define. Além de saborosos, os pratos têm ótimo custo-benefício.
 
 
A panqueca de camarão a quatro queijos do Chérie
 

 

Chérie 

 
 
O Chérie é relativamente novo: funciona desde fevereiro na rua dos Inconfidentes, no centro histórico. O proprietário Ricardo Buzanin Pinheiro, 44, reedita um antigo sucesso – a primeira creperia foi aberta em 2010, em outro local. O mais legal é que a casa trabalha com produtos fit, com massa integral ou sem lactose, com baixa presença de carboidratos. O restaurante oferece, além de crepes e panquecas, opções para vegetarianos e veganos. 
 
O segredo, segundo Pinheiro, são os ingredientes de qualidade, fresquinhos, e a massa no ponto certo. A Chérie mostra que a gastronomia tiradentina é muito diversificada, para todos os tipos de público. Também dá a liberdade ao cliente de montar seu crepe ou panqueca com os ingredientes de que gosta. A dica é a panqueca de camarão aos quatro queijos. O espaço também é recomendado para happy hour.
 
 
O bacalhau é a especialidade do restaurante Atrás da Matriz
 
 
 

Atrás da Matriz 

 
 
A combinação é realmente inusitada: pizza e bacalhau. O cardápio do restaurante do trio Gustavo, Arlete e Cátia tem muitos pontos a favor: muito espaço interno e uma varanda agradável; 19 variedades de pizzas feitas no fogão a lenha no jantar e vinho a preço justo.
 
Escondidinho atrás da igreja Matriz de Santo Antônio, o restaurante tem o bacalhau como destaque. Você pode escolher entre 12 versões: as mais pedidas são à Pedreira (cozido, com tomates em tiras no azeite e alho, com arroz de brócolis), ao molho de amêndoas e fumeiro (lombo defumado, assado com batatas, cebolas, pimentões, brócolis, alho e azeitonas pretas). 
 
Segundo Cátia Bastro, o negócio deu tão certo que o restaurante completou 21 anos em fevereiro, atingindo a maioridade. “Queríamos fugir da comida mineira, que era a maioria dos restaurantes”, conta. Ela garante que trabalha filé-mignon do bacalhau Gadus Morhua e renova os pratos a cada temporada. 
 
O bacalhau vem da Noruega, em dez caixas, inteiro, já salgado. Todo o processo de retirar a pele, a espinha e fazer a preparação é por conta da equipe. O vinho na taça custa R$ 30 (Santa Helena), e há também o Aldeia da Serra (R$ 30), mas a carta contempla 77 rótulos portugueses, italianos, ses, espanhóis, chilenos e argentinos.
 
 
O frango com ora-pro-nóbis do Taberna do Padre Toledo
 

 

 

Restaurante Padre Toledo

 
Padre Toledo é nome de museu e restaurante em Tiradentes. Aberto em 1970 em um casarão de 1722, o restaurante completou 52 anos em julho. O foco é a cozinha mineira tradicional (leia-se frango com quiabo, com ora-pro-nóbis, o prato preferido do referido padre, e ao molho pardo, tutu à mineira, feijão tropeiro, bambá de couve etc.). O restaurante tem uma decoração rústica, e os pratos atendem muito bem até quatro pessoas. 
 
"A casa pertence à minha avó Josefina, que prestou uma homenagem ao Padre Toledo”, conta Luiz Fonseca Neto, 42. O cardápio foi acrescido ao longo do tempo por releituras. O empresário reconhece que se adaptou aos novos tempos depois que o Festival de Cultura e Gastronomia trouxe uma nova vertente para a culinária de Tiradentes, com um toque mais contemporâneo. “Hoje, inovamos, mas sem perder a identidade”, salienta. 
 
O risoto de frango com couve é uma releitura do frango com ora-pro-nóbis. Surgiram ainda as receitas do tornedor de filé-mignon com gorgonzola ao molho de vinho e a costelinha com redução de rapadura e farofa crocante. Uma das novidades é a sobremesa Marília e Dirceu, em homenagem ao casal de inconfidentes. A essência, esclarece Neto, é comida à moda antiga. 
 
A cozinha é liderada pela chef Fernanda Fonseca, 43, que, ao lado dos irmãos Neto e Paula, gerencia a casa. O negócio da família ainda envolve uma padaria e uma fazenda com produção própria. “Ainda não somos totalmente autossustentáveis”, destaca Neto.
 
 
Os pratos Rei Arthur e Santo Graal, entre os mais pedidos do restaurante Távola
 
 

Restaurante Távola

 
 
O slogan do restaurante Távola resume tudo: “Uma experiência digna de rei”. A Távola tem a estrutura de uma choperia e oferece um pouco de tudo: caldos, saladas, petiscos, risotos, massas, carnes e sobremesas. Como diz o nome, o estilo é medieval, tendo como referência a lenda de Arthur e dos Cavaleiros da Távola Redonda. Os pratos seguem essa mesma linha. 
 
O gerente José Otávio de Oliveira Silva indica o Porco Logres, o prato mais pedido da casa. É uma barriga de porco com dadinho de polenta, molhos de gorgonzola e de frutas vermelhas. Outra dica é o Santo Graal, truta grelhada com molho de alcaparras, champignons, salsa e tomate picadinho, acompanhada de arroz com amêndoas e batatas ao murro com alho dourado. 
 
As receitas do chef Jhonata Weider eiam com desenvoltura pelas culinárias brasileira e mediterrânea. Ele, inclusive, já trabalhou em restaurantes famosos, como Tragaluz e Atrás da Matriz. Os pratos ficam prontos no máximo em 30 minutos. O restaurante também é indicado para quem gosta de cervejas artesanais e drinks.
 
 
O rocambole com calda de frutas vermelhas e sorvete de manjericão do Rocambole & Cia
 

 

Rocambole & Cia 

 
 
Não há dúvida de que uma das encomendas mais pedidas para quem visita Tiradentes é uma parada em Lagoa Dourada para comprar um autêntico rocambole. A estrada que conduz à cidade histórica, a partir de Belo Horizonte, corta Lagoa Dourada ao meio. De um lado e do outro, casas oferecem a famosa iguaria, inclusive com a possibilidade de encomenda. 
 
Se você não ou (ou não parou) na ida ou na volta em Lagoa Dourada, o casal Maria Regina Andrade Vale e Timóteo Machado de Resende tem a solução. Eles montaram uma loja no centro histórico de Tiradentes para saciar a curiosidade dos turistas. Por sinal, Maria Regina aprendeu a receita do rocambole em Lagoa Dourada, onde teve uma loja. 
 
A proprietária da Rocambole & Cia garante que vende o autêntico rocambole, além da queijadinha, do pastel de angu feito artesanalmente e do pastel de fubá de milho. A loja é um empório com um pouco das mineiridades, como o queijo canastra. À noite, serve caldos. “Eu vou garimpando produtos mineiros, como a carne de lata, os azeites de Aiuruoca, os queijos do serro, alagoa e canastra, os cafés especiais do Sul de Minas”, conta.
 
 
Ana Clara Trindade de Matos e o famoso doce de leite do Bolota
 
 

Doce de leite do Bolota 

 
 
O boca a boca em Tiradentes funciona, e foi assim que conhecemos o Bolota. O doce de leite mais famoso da região é produzido há décadas por José de Oliveira, um diabético que adora guloseimas. O cozinheiro já faleceu, mas a neta Ana Clara Trindade de Matos deu continuidade à tradição, reproduzindo a receita do avô, ada de geração a geração. 
 
Na cozinha da própria casa, Ana Clara produz a receita que leva 15 litros de leite para apenas 200 gramas de açúcar. Outro ingrediente é um pouco de paciência – são quatro horas e meia no fogão a lenha e mais 15 a 20 dias na geladeira para o doce de leite ganhar leve consistência e menos açúcar. Ela, no entanto, adaptou a receita ao adoçante de mesa, com sacarose. 
 
A produção é caseira e limitada: a receita rende 28 potes, cada um ao custo de R$ 30. “Boa parte da propaganda é boca a boca”, reconhece. O avô está lá, na foto da parede. Ana, as irmãs e a mãe ainda produzem doces de limão-capeta, laranja-da-terra e figo, goiabada e geleia de pimenta. Não estranhe a porta da casa fechada: é só bater e ser atendido.

 

Leia também:

 

Tiradentes terá Natal colorido e Festival Artes Vertentes; confira nossas dicas

 

Serra de São José, em Tiradentes, tem trilhas, cachoeiras, libélulas e histórias

 

Tiradentes: Festival Artes Vertentes propõe uma reflexão sobre as (in) independências

 

Serviço

 

Onde comer

 
Ateliê Gastronômico: rua Henrique Diniz, 133, centro histórico. Couvert surpresa: R$ 64. Experimente o tagliarini frito (R$ 59) ou a costelinha defumada (R$ 69), como sobremesa doce de leite frito (R$ 34). É aconselhável reserva pelo Instagram / @ateliegastronomicotiradentes ou Facebook /Ateliê Gastronômico.
 
Atrás da Matriz: rua Santíssima Trindade, 201, centro histórico. Especializado em bacalhau, caldos e massas. Experimente o bacalhau ao molho de amendôas ou o bacalhau à Pedreira. O preço médio dos pratos por pessoa também é em torno de R$ 80/R$ 90. Já uma garrafa de vinho varia de R$ 62 a R$ 5.800. 
 
Empório Santo Antônio: rua Belica, 133, Parque das Abelhas. A dica é a costela no bafo. Média de preço de R$ 85 por pessoa. e Instagram /@emporiosantoantonio 
 
Chérie: rua dos Inconfidentes, 218, centro histórico. A panqueca de camarão é uma boa pedida. Os preços variam de R$ 29 a R$ 38. Instagram / @cherie.tiradentes  
 
Taberna do Padre Toledo: Especializado em comida mineira. Experimente o bambá de couve ou a costelinha com redução de rapadura e farofa crocante. Os preços variam entre R$ 49 e R$ 69 (massas e individuais) e entre R$ 120 e R$ 160 (à la carte).
 
Restaurante Távola: rua Ministro Gabriel os, 46. O porco de logres (R$ 49) ou Santo Graal (R$ 59,90). ou  (32) 99849-1227 (WhatsApp).
 
Doce de leite do Bolota: rua Bias Fortes, 77, bairro Cascalho. R$ 30 o pote.Facebook / Doce de Leite do Bolota e Instagram / @doceleitebolota
 
Rocambole & Cia: rua Ministro Gabriel os, 115, centro histórico.Queijadinha (R$ 12), azeite (R$ 70) e rocambole (R$ 80), Instagram / @rocamboleecia