Muito além do patrimônio histórico e da gastronomia, o ecoturismo é uma das apostas do governo local. O crescente interesse pelo ecoturismo, pelo turismo rural e pelo cicloturismo não a despercebido neste momento pós-pandemia. A serra de São José, que pode ser avistada de qualquer ponto da cidade, oferece opções de ecoturismo, de trilhas a cachoeiras, de mirantes à prática do birdwatching, mas boa parte dos turistas não descobriu suas potencialidades.

 

A serra São José tem 12 km de extensão e abrange outros quatro municípios – além de Tiradentes, São João del-Rei, Prados, Santa Cruz de Minas e Coronel Xavier Chaves. A Casa das Águas, pertencente ao município de Prados, onde funciona o Centro de Visitantes da Área de Proteção Ambiental (APA) São José, é o ponto de partida para aprender um pouco sobre a história do maciço rochoso. Uma exposição geológica permanente exibe minerais, como basalto e quartzito, que provam que a região já foi, há bilhões de anos, fundo de mar.

 

 

A presença da libélula é um indicador da pureza do ar

 

 

A Casa das Águas, no bairro de Águas Santas, foi utilizada no ado por tropeiros para pouso e descanso. Quem recebe os visitantes é a monitora ambiental Mariana Rodrigues, que conhece a região como a palma da mão. Ela explica que a serra tem duas unidades de conservação, ambas istradas pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF): além da APA São José, o Refúgio Estadual de Vida Silvestre Libélulas concentra 55,5% das libélulas encontradas em Minas. A presença do inseto é um indicador da qualidade de ar. 

 

A cachoeira do Mangue forma vários poços para banhos

 

Os trilheiros vão se animar com as trilhas existentes: para alcançar a cachoeira do Mangue, há dois caminhos. Se estiver em Tiradentes, o o é no final da rua Frei Veloso, no bairro do Pacu. Mariana é quem nos conduz por uma caminhada íngreme de 2,6 km, ida e volta, subindo a serra até a queda d’água e ando pelo local onde se concentram as libélulas. A cachoeira tem ótimos poços para banhos. Um detalhe: essa cachoeira é mais perto para quem faz a trilha do Mangue (2,4 km ida e volta), saindo do bairro Águas Santas, em Prados.

 

A trilha mais famosa é a do Carteiro, que tem início no bairro Cascalho, em Tiradentes. O trajeto inicial é de terra, mas logo surge o calçamento de pedra, daí o nome “Calçada dos Escravos”, feito por escravizados no século XVIII para facilitar o transporte de ouro. A trilha íngreme leva até um mirante no topo da serra, com parada na cachoeira do Carteiro. A caminhada dura, em média, uma hora e meia na ida, atravessando trechos de Mata Atlântica. 

 

 

A Calçada dos Escravos , na Trilha do Carteiro, no alto da Serra de São José

 

 

A trilha recebeu esse nome por causa dos informantes da Inconfidência Mineira que levavam correspondência para o outro lado da serra, driblando o controle da Coroa Portuguesa. No caminho há uma cruz no local onde estaria enterrado o carteiro, provavelmente morto em uma emboscada por soldados. A visão panorâmica de cima da serra é deslumbrante, com vista da cidade de Tiradentes, do bairro de Águas Santas, em Prados, e das montanhas. 

 

 

Serra de São José, em Tiradentes, tem trilhas, cachoeiras, libélulas e histórias

 

 

Para quem está de carro, a estrada velha de Tiradentes leva à cachoeira de Bom Despacho, a mais visitada pelos turistas por causa da facilidade de o. Há, ainda, aventureiros que encaram a jornada de “cortar” toda a serra. A travessia de 8 km de Tiradentes a Águas Santas pode ser feita em caminhada de seis horas ou de carro pela estrada Parque o dos Fundadores, com paradas para apreciar as vistas e tomar água em uma bica. Agências oferecem o eio ao custo de R$ 300. Não há necessidade de guias para as trilhas. 
 

Turismo rural 
 

Em Tiradentes, dois outros segmentos de turismo têm crescido muito. Os tours guiados de bicicleta (leia-se cicloturismo) podem ser feitos aproveitando o traçado da antiga linha férrea Oeste de Minas, margeando o rio das Mortes. O turismo rural é outra ação do projeto Renovar Tiradentes: em parceria com receptivos locais, roteiros estão sendo criados para explorar o turismo rural na Rota da Caixa-d’Água. Caixa-d’Água é uma antiga comunidade rural de Tiradentes: ali existe até hoje a caixa-d’água que abastecia a locomotiva a vapor.

 

Nossa parada é no sítio de Rosana Nascimento, 51, que produz biscoitos e doces de compota. Rosana é uma típica quitandeira nascida no distrito de Vitoriano Veloso, ou Bichinho, e que aprendeu com a mãe a fazer biscoitos no forno de cupim. Ela produz cerca de 2 kg de biscoito por dia, tudo fresco. Como todo morador da Caixa-d’Água, ela recebe o turista com um cafezinho coado na hora e uma boa conversa, típica da roça. 

 

 

O cupinzeiro no quintal de Rosana: adaptado para um forno

 

 

No quintal de Rosana está o cupinzeiro, que garante dar um gosto diferente às broas. Ela recorda que nos casamentos antigamente em Bichinho não se fazia festa, mas se serviam biscoitos. Na lojinha improvisada, vende biscoitos de polvilho quebra-quebra, roscas de nata e goiabinhas, ao custo de R$ 10 o pacote. Há, ainda, as compotas com as frutas da época, a R$ 35. Apenas uma vez por ano, ela produz cerca de 7.000 litros da cachaça Serra Azul.

 

Na Caixa-d’Água, o visitante descobre uma capela, ruínas de casas e de um aqueduto que abastecia Tiradentes. Parece que a comunidade parou no tempo e ainda cultiva os prazeres da roça: tirar o leite da vaca, produzir queijo artesanal, cultivar hortas. Na propriedade de Rosana, as visitas precisam ser agendadas. Ela faz tudo com esmero: enfeita uma mesa e a coloca debaixo de uma mangueira para os visitantes degustarem os quitutes e as quitandas. 

 

 

Turismo rural: Rota do Sabores a pela comunidade de Caixa d'Água

 

 

Na volta para Tiradentes, o restaurante Sabor Rural é outra parada da rota. No local, Cleber Nascimento, 58, oferece comida mineira, como linguiça caseira, carne na lata, frango caipira, torresmo pururuca, pastéis de angu recheados de carne-seca, doce de leite e goiabada com queijo minas, mas com um jeito diferente de servir – a caipirinha vem em uma chaleira, e o balde com cerveja é pendurado próximo à mesa. O gasto médio é em torno de R$ 100 por pessoa. Em um alambique, ele produz 80 litros/dia da cachaça Sabor Rural.

 

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Serviço

 
Sítio da Rosana: As visitas são pré-agendadas por WhatsApp (31) 98435-9595.
 
Onde contratar eios
 
UTV: Go Trilha GTiradentes. O eio em veículo duplo (R$ 400) e em veículo família para 4 pessoas (R$ 600). Instagram / (@gotrilha_tiradentes
 
Caminhos & Trilhas: Oferece eios à cachoeira do Mangue (R$ 70), Trilha do Carteiro (R$ 120) e Travessia da Serra (R$ 150). Os eios incluem guia, água e seguro Ecotrip. (31) 99967-9665 e Instagram / @caminhos_e_trilhas