BRASÍLIA - Em entrevista a O TEMPO, o chefe da Assessoria Especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do Ministério dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, defendeu a reabertura das investigações sobre a morte de Juscelino Kubitschek e disse acreditar na emissão de uma nova certidão de óbito do ex-presidente, morto durante a ditadura militar.
A decisão já foi tomada pela Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, recriada em agosto de 2024 após ter sido extinta pelo governo Jair Bolsonaro. O motivo é a publicação de um novo laudo técnico, pelo perito Sérgio Ejzenberg, que contesta a versão oficial da ditadura militar.
Ocorrida em 1976, a morte de JK é, até hoje, cercada de suspeitas. Segundo os registros oficiais, ele teria falecido devido a um acidente automobilístico na Rodovia Presidente Dutra, no Rio de Janeiro. Dirigido pelo motorista Geraldo Ribeiro, Opala onde estava o ex-presidente teria perdido o controle, invadido o outro lado da pista e colidido com uma carreta, resultando na morte de ambos.
“O que pode sair é: não foi acidente, foi um atentado praticado pelo Estado, pela ditadura. É importante para o país saber isso. Ou então confirmar o acidente, o que eu não acredito. [...] ”, disse Nilmário Miranda.
“Consultamos a família e aparentemente, não há oposição. Não tem nenhuma espécie de reparação, mas nós não podemos investigar a morte de um chefe de família sem consultar respeitosamente a família”, ressaltou, sobre a reabertura do caso.
Historiadores apontam que na época, houve destruição de provas e os corpos não foram examinados. Além disso, Nilmário cita que o motorista do ônibus que teria induzido o Opala a perder o controle foi absolvido pela Justiça em segunda instância: “Se foi absolvido, não houve acidente. Com base nisso, reabrimos porque persistem dúvidas sérias. Eu, particularmente, acho que não foi acidente”.
Nilmário Miranda também menciona que em 1976, JK já tinha recuperado seus direitos políticos após ter tido o mandato cassado pelo regime militar em 1964, meses depois do golpe. E lembra que os três líderes da chamada Frente Ampla de oposição à ditadura - Juscelino, João Goulart e Carlos Lacerda - faleceram em um intervalo de nove meses. No caso de Jango, as circunstâncias da morte também são suspeitas.