BRASÍLIA - O general Walter Braga Netto (PL) declarou que nunca entregou dinheiro em uma sacola de vinho a Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro,  que serviria para o financiamento das despesas necessárias a realização da Operação Punhal Verde e Amarelo

"Eu nunca pedi dinheiro para ninguém e não dei dinheiro nenhum para o Cid", afirmou, durante depoimento nesta terça-feira (10) ao Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da ação penal sobre a suposta trama golpista.

"Não tinha contato com empresários, todo o interesse que eles tinham era no presidente Jair Bolsonaro", acrescentou.

Em depoimento ao STF, Mauro Cid confirmou que Braga Netto obteve e entregou recursos para a operação Punhal Verde e Amarelo, que tinha como objetivo o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do próprio ministro Alexandre de Moraes. A casa do general em Brasília ainda teria sido usada como local de reunião pelo grupo que discutia a trama. 

Durante o interrogatório, o general Braga Netto negou também ter pressionado os chefes das Forças Armadas a aderirem à trama golpista. "Eu nunca determinei ou coordenei ataques aos chefes dos comandos militares", disse.

Braga Netto está preso desde dezembro do ano ado por obstrução à Justiça e participa do interrogatório por videoconferência.

O ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) é o sexto e último réu a depor no segundo dia de interrogatórios dos integrantes do chamado “núcleo 1” ou “núcleo crucial” da suposta trama golpista contra Lula. Antes deles, falaram Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa), o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), o almirante Almir Garnier (ex-comandante da Marinha) e Anderson Torres (ex-ministro da Justiça e Segurança Pública).

Os interrogatórios acontecem na sala de sessões da Primeira Turma do STF. O núcleo 1 tem oito réus, incluindo Bolsonaro. Os depoimentos começaram na segunda-feira (9), quando falaram o tenente-coronel Mauro Cid (ex-ajudante de ordens da Presidência) e o deputado federal Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin).

A Primeira Turma julga a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Baseada em investigação da PF, ela diz que o grupo encabeçado por Bolsonaro e Braga Netto tiveram papel central na tentativa de ruptura institucional. A denúncia foi aceita pelo STF em março. 

Os réus respondem por tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, tentativa de golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem chegar a 43 anos de prisão.  

Braga Netto está preso desde dezembro por obstrução à Justiça 

Braga Netto virou réu no STF em 26 de março, dentro do chamado “núcleo crucial” da suposta tentativa de golpe de Estado. A Procuradoria-Geral da República (PGR) apontou que ele teve tentou multiplicar a adesão a manifestações após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Inclusive, no acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, de onde saíram os envolvidos na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. A denúncia cita que Braga incitou os presentes no local a ampliarem a mobilização, dando esperança para alguma decisão. 

A PGR atribuiu ao general cinco crimes. São eles tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, envolvimento em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem chegar a 43 anos de prisão. 

De acordo com a defesa do general, “ele ficou indignado com a denúncia” da PGR, “pois é inocente”. "Está inconformado, pois encontra-se preso com base numa mentira”, declarou o criminalista José Oliveira Lima. 

O militar ocupou diferentes cargos no governo Bolsonaro. Entre abril de 2019 e fevereiro de 2020, foi chefe do Estado-Maior do Exército. E fevereiro de 2020 a março de 2021, foi ministro da Casa Civil. Entre março de 2021 e abril de 2022, chefiou o Ministério da Defesa. A saída do governo em abril de 2022 foi para disputar o cargo de vice-presidente na chapa de Bolsonaro à reeleição.  

Braga Netto está preso desde dezembro de 2024 na Vila Militar do Rio de Janeiro. A prisão foi ordenada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, que apontou obstrução à Justiça por parte do militar em investigações, como a da suposta trama golpista.  

Isso, por meio da tentativa do general de ter o a conteúdo sigiloso, como a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro. Em sua colaboração com a Justiça, Cid revelou, por exemplo, que reuniões foram feitas na casa de Braga Netto para incentivar um “caos” entre a população que estimulasse uma ação antidemocrática.