BRASÍLIA - A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, criticou nesta quarta-feira (26) a banalização da violência contra a mulher e a normalização de feminicídios com índices diários de mortes no Brasil.
Ao participar da solenidade em homenagem ao Dia Internacional da Mulher e à conquista do voto feminino, no plenário da Câmara dos Deputados, Cármen Lúcia lamentou que as mulheres sejam historicamente destratadas em um momento que a igualdade de direitos ganha concordância na retórica, mas tem aplicação distinta na prática.
“Essa sociedade mata, assassina mulheres como se fossem bichos o tempo todo. E todo mundo dá notícias. E a cada manhã acordamos surpreendidos, sensibilizados, emocionados, tragicamente tocados pelo assassinato de uma mulher que é morta porque decidiu ter uma vida sem aquele companheiro, mas ele acha que ela não tem o direito de não o querer”, disse.
Cármen Lúcia diz que leis são descumpridas quando se trata de igualdade de gênero
Ao discursar na tribuna do plenário da Câmara, a ministra ressaltou que o que se busca, ainda hoje, em favor do feminino é o cumprimento da Constituição que prevê uma sociedade justa e igualitária.
“Nós não estamos pedindo mais direitos. Nós queremos a efetividade jurídica e social dos direitos. Porque nós temos direitos, temos Constituição no Brasil, temos uma democracia que só se efetiva quando a gente tiver esse princípio da igualdade especificamente, socialmente, juridicamente, economicamente cumprido e implementado”, continuou.
Cármen Lúcia é a única mulher a ocupar a Corte do STF, a terceira na história da Corte, que completa 134 anos nesta sexta-feira (28). É também a única representante feminina a presidir o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por duas vezes, inclusive na atualidade. Para ela, porém, a desigualdade histórica parece distante de ser reparada.
“Me perguntaram quando terá igualdade para as mulheres no Supremo. Eu disse: ‘quando tiverem as onze’. E disseram: ‘mas vocês querem hegemonia ou igualdade?’. Quando tinham 11 homens aplicando a Constituição, ninguém achava que tinha desigualdade, que era hegemonia. Por que que agora é?”, questionou.