Na véspera do aniversário de 58 anos do golpe militar, nesta quinta-feira (31), o Ministério da Defesa divulgou uma ordem do dia em que enaltece o período de 21 anos da ditadura no Brasil. O texto é assinado pelo ministro Braga Netto, que deve deixar o cargo para ser vice de Bolsonaro, e pelos comandantes das Forças Armadas.
"O Movimento de 31 de março de 1964 é um marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época", inicia a ordem do dia.
Em seguida, o texto, que foi inclusive divulgado nas redes sociais do ministério, faz uma contextualização do período, lembrando da intentona comunista, de 1935, da Segunda Guerra Mundial e do período da Gerra Fria.
"Em março de 1964, as famílias, as igrejas, os empresários, os políticos, a imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), as Forças Armadas e a sociedade em geral aliaram-se, reagiram e mobilizaram-se nas ruas, para restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil, por grupos que propagavam promessas falaciosas, que, depois, fracassou em várias partes do mundo. Tudo isso pode ser comprovado pelos registros dos principais veículos de comunicação do período", afirma.
A ordem do dia, entretanto, ignora a censura imposta pelo regime militar aos veículos de imprensa, que inclusive teve jornalistas mortos pelos militares, como o emblemático caso de Vlir Herzog.
"Período de estabilização, segurança e crescimento econômico"
Na continuação, a ordem do dia do Ministério da Defesa chega a afirmar que nos anos após o golpe de 31 de março de 1964, "a sociedade brasileira conduziu um período de estabilização, de segurança, de crescimento econômico e de amadurecimento político".
"(O período) resultou no restabelecimento da paz no País, no fortalecimento da democracia, na ascensão do Brasil no concerto das nações e na aprovação da anistia ampla, geral e irrestrita pelo Congresso Nacional", completa o documento.
Por fim, o texto afirma que agora cabe reconhecer o papel desempenhado por civis e militares, "que nos deixaram um legado de paz, de liberdade e de democracia, valores estes inegociáveis, cuja preservação demanda de todos os brasileiros o eterno compromisso com a lei, com a estabilidade institucional e com a vontade popular".
Histórico do regime
O período constantemente enaltecido por Bolsonaro e pelos militares teve uma estrutura dedicada a tortura, mortes e desaparecimento.
Os números da repressão são pouco precisos, uma vez que a ditadura nunca reconheceu esses episódios. Auditorias da Justiça Militar receberam 6.016 denúncias de tortura. Estimativas feitas depois apontam para 20 mil casos.
Presos relataram terem sido pendurados em paus de arara, submetidos a choques elétricos, estrangulamento, tentativas de afogamento, golpes com palmatória, socos, pontapés e outras agressões. Em alguns casos, a sessão de tortura levava à morte.
Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) listou 191 mortos e o desaparecimento de 210 pessoas. Outros 33 desaparecidos tiveram seus corpos localizados posteriormente, num total de 434 pessoas.
Assim como nos anos anteriores, o texto do Ministério da Defesa defende que o golpe atendeu aos anseios da sociedade e impediu que um "regime totalitário", em referência ao comunismo, fosse instalado no Brasil.
"Grupos que propagavam promessas falaciosas, que, depois, fracassou em várias partes do mundo", diz o texto.
Em seus últimos discursos, Bolsonaro também vem revivendo críticas ao comunismo e equiparando-o ao petismo. O chefe do Executivo está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Bolsonaro quer aproveitar a reforma ministerial em abril para tentar ampliar sua influência no comando do Exército em ano eleitoral, quando disputará a reeleição.
Integrantes do governo dizem que uma promoção do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, atual comandante do Exército, para o cargo de ministro da Defesa serve a dois propósitos: colocar à frente das três Forças um nome que agrade o Exército, que reúne o maior número das tropas, e, principalmente, acomodar à frente da Força terrestre alguém alinhado ao Palácio do Planalto.
É dado como certo que o general Marco Antônio Freire Gomes assumirá o comando do Exército. Hoje, ele é comandante de Operações Terrestres.
(Com informações da Folhapress)