Você já saboreou o café árabe? Sabia que a borra que se assenta no fundo da xícara funciona como um oráculo, conhecido como cafeomancia? Esse é um saber muito antigo e continua sendo transmitido de geração em geração. É o caso de Hana Khowli, 78, nascida em Haifa, na Palestina, e que depois viveu em Sídon, no Líbano. 

“Comecei a me interessar pela leitura da borra de café lá pelos meus 10, 12 anos. As vizinhas viravam as xícaras e pediam para minha mãe Amine fazer a leitura. Eu ficava curiosa. Éramos quatro irmãs, nenhuma se interessou, apenas eu”, relembra Hana, que é formada em enfermagem e atuou como parteira em campos de refugiados durante a guerra. Colocou no mundo dezenas de crianças. 

Como tantos outros imigrantes, Hana saiu do Líbano para fugir da guerra. Não queria criar sua família no meio de bombas e mortes. Antes de se mudar para o Brasil, viveu em outras partes do mundo. Em 1976, ou seja, há 47 anos, aterrissou no aeroporto da Pampulha com seu marido e três filhos. “Fiquei encantada com o aeroporto, que estava com muitas bandeiras e flores por toda parte. Perguntei para uma moça o porquê daquele cenário festivo, e ela respondeu que o papa João Paulo II tinha chegado duas horas antes do meu voo. Aí pensei: esse é um sinal de que Deus vai abençoar minha vida nesta cidade”, comenta com os olhos marejados de emoção. 

“Não foi fácil me adaptar no Brasil, chorava muito, sentia falta dos meus pais e irmãos. Mas aos poucos fui me acostumando. Sou caseira, não amolo as pessoas e rezo muito. Todos os dias eu acendo uma vela, peço proteção e luz para mim, para a minha família e para as pessoas que me procuram”, confessa. 

Durante 35 anos, ela esteve de sol a sol trabalhando no Empório Árabe D’Hana, no Mercado Central, onde é muito querida e angariou amigos. Atualmente ainda frequenta a loja, agora istrada por um de suas filhas, mas como visita. E foi lá que uma amiga da comunidade árabe pediu que ela fizesse a sua leitura. Ficou tão encantada com a assertividade das informações que espalhou os dons de dona Hana para as colegas de trabalho, e assim ela ficou conhecida pela interpretação certeira, honrando uma tradição antiga do mundo árabe. “Ela foi minha primeira cliente, acendeu o fósforo. Isso foi há 20 anos”, alegra-se. 

Dona Hana é muçulmana e conta como se prepara para a leitura da borra de café. “Primeiro tomo um banho para me purificar. A pessoa escreve seu nome completo e data de nascimento, e eu peço a Deus para iluminar meus pensamentos, dando clareza, para que eu possa ajudá-la. Este é um processo intuitivo e espiritual, que demanda muita energia mental e emocional. É algo muito sério e de muita responsabilidade”, revela. 

A jornalista Ana Elizabeth Diniz escreve neste espaço às terças-feiras. E-mail: [email protected] 

Respostas a questões pessoais

Tudo começa no fogão. Uma chaleira de água fervente recebe um tantinho de cardamomo e depois o café puro, moído, e não desses industrializados. “Após um tempinho de fervura, eu coloco o café na xícara árabe, sem alça e sem pires. Aguardo um tempinho para que o pó se assente no fundo e peço que a pessoa faça mentalmente três perguntas e beba vagarosamente o café”, ensina Hana Khowli. 

Na sequência, “dou uma mexida na xícara e a coloco de cabeça para baixo em cima de outra xícara limpa e aguardo uns minutinhos até a borra secar. Quando viro a xícara, lá estão traços, símbolos, desenhos, rostos, animais, figuras, uma escrita simbólica que vou interpretando para a pessoa. São informações sobre vida afetiva, dificuldades, viagens, doenças, notícias boas, rompimentos, enfim, que vão responder aos questionamentos que a pessoa fez lá no início. O que foi revelado pode acontecer em até três dias, três semanas ou três meses”, finaliza Hana. (AED) 

Curiosa sobre o oráculo 

Eu nunca havia feito a leitura na borra de café, nem mesmo quando fui a Istambul, onde essa prática atrai centenas de pessoas. Minha leitura começou de forma inusitada, pois, após encher minha xícara com o café árabe, o bule caiu no chão, derramando o restante da bebida. Mas dona Hana Khowli me deixou bem à vontade e, mais, disse que era um bom sinal, indicando que algo bom iria acontecer na minha vida. Fiquei aliviada. 

Árabe não abre mão do cardamomo no café. Achei maravilhoso e refrescante. Minha leitura? Sim, foi fabulosa e muito assertiva. Trouxe luz à jornada. (AED) 

Simbolismos 

Ave: notícia boa 

Caminho aberto: prosperidade 

Cachorro: amizade 

Árvore: riqueza, dinheiro 

Dois rostos juntos: discussão 

Cama: doença 

Animal grande com feição brava: briga 

Pessoas abraçadas: encontro 

Lobo branco: paz 

Coração: paixão a caminho 

Cruz: brigas e problemas 

Estrela: felicidade 

Lançamentos  

“Irmandade da Cruz”, Luiz Henrique Carvalho Mourad, editora Madras, 259 páginas, R$ 44,90. 

Na história, um jornalista recebe um convite para participar da Irmandade da Cruz, uma sociedade secreta responsável por proteger Jesus e deixá-lo em lugares seguros com o ar dos séculos. 

“Confissões de um pregador”, Augustus Nicodemus, editora Mundo Cristão, 368 páginas, R$ 79,90. 

Uma coletânea das experiências de 40 anos de Nicodemus como pregador. Em um texto pessoal e confessional, o autor oferece revelações sobre o dia a dia e ensina o cristão vocacionado a fazer valer o chamado, com talento e dedicação. 

“Melhores decisões, menos arrependimentos”, Andy Stanley, editora Hábito, 192 páginas, R$ 49,90 

O autor ensina como deixar de tomar decisões ruins, pois elas afetam a direção e a qualidade da sua vida, e também criam a sua história. Ele propõe cinco perguntas que ajudarão em suas finanças, relacionamentos, carreira e muito mais.