A Argentina também anunciou a suspensão da compra de carnes de frango do Brasil, após a detecção de um caso de gripe aviária em granja no Rio Grande do Sul. A decisão segue o que já havia sido anunciado por China e União Europeia, que também interremperam as importações brasileiras. O anúncio foi feito pelo governo argentino no final da tarde desta sexta-feira (16).
Em comunicado, o país vizinho afirmou que solicitou o fortalecimento das medidas de biossegurança e vigilância nas grankas avícolas comerciais do país para reduzir o risco de contágio da doença. "O evento foi registrado a 620 km da fronteira com a Argentina. Segundo o MAPA, medidas de contenção e erradicação já foram implementadas para o surto, que é o primeiro no sistema avícola comercial do país vizinho", disse, em nota, o governo de Javier Milei.
A suspensão de compra é válida para todos os 'produtos e subprodutos de aves' certificados como livres de IAAP - termo que reúne variantes da gripe de alta patogenicidade. "Em relação à genética avícola, continuará sendo permitida a entrada de aves de um dia e ovos férteis, desde que sejam provenientes de compartimentos oficialmente reconhecidos pelo SENASA como livres desta doença", frisou a Argentina.
Internamente, o governo Milei determinou que os estabelecimentos avícolas façam uma revisão e reforço nas redes para proteção de pássaros nas fazendas, aumento da limpeza em áreas com acúmulo de fezes de pássaros silvestres, além de otimizar medidas de manejo e biossegurança nas propriedades rurais.
Também foi determinada a redução ou eliminação de áreas com água parada que possam atrais pássaros selvagens, além de evitar o uso de dispositivos de intimidação e caça de fauna selvagem. "Da mesma forma, os produtores de aves de quintal são aconselhados a manter as aves em áreas protegidas para evitar o contato com aves selvagens; Limpe e desinfete os galinheiros periodicamente; usar roupas e calçados exclusivamente para manuseio de aves; e restringir o o de aves selvagens a fontes de água e alimento em galinheiros familiares", ratificou.
Exportações
O Brasil é o maior exportador de carnes de frango do mundo. Em função da identificação da circulação do vírus H5N1, causador da doença, China e União Europeia suspenderam as compras dos produtos brasileiros por 60 dias.
O impacto é grande, já que a China, especificamente, é o principal destino das exportações do Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), do total de 5,16 milhões de toneladas de carnes de frango enviadas a outros países em 2024, mais de 562 mil toneladas, 17,65% do total, desembarcaram na China.
Em seguida, no segundo lugar no ranking de compradores, estão os Emirados Árabes Unidos, que adquiriram mais de 455 mil toneladas. A União Europeia, que aplicou embargo à carne de frango brasileira, é a sétima maior compradora, com 231.890 toneladas. As transações brasileiras ao exterior no ano ado somaram US$ 9,93 bilhões, segundo a ABPA.
O caso
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou nesta sexta-feira (16/5) a detecção do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade em uma granja de aves comerciais no Rio Grande do Sul. A detecção, que pode levar a embargos comerciais, ocorreu no município gaúcho de Montenegro, de 64 mil habitantes, e é o primeiro foco da doença registrado em sistema de avicultura comercial no país, disse a pasta, em comunicado.
O ministério disse que está tomando as medidas necessárias para conter e erradicar o foco, além de realizar a comunicação oficial à OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal), aos parceiros comerciais do Brasil e outros.
"As medidas de contenção e erradicação do foco previstas no plano nacional de contingência já foram iniciadas e visam não somente debelar a doença, mas também manter a capacidade produtiva do setor, garantindo o abastecimento e, assim, a segurança alimentar da população", explicou o comunicado.
O que é o H5N1, causador da gripe aviária?
É uma variante do vírus da gripe comum, integrante da família influenza. A variação H5N1 é comum em aves.
Qual a letalidade em aves?
Extremamente alta, segundo o professor da Faculdade de Medicina Veterinária da USP Paulo Eduardo Brandão. O vírus é transmitido rapidamente, e o número de mortes costuma ser ainda maior em granjas, que concentram muitos animais em um espaço pequeno.
O vírus é novo?
Não. Um ancestral dele é conhecido desde 1996 por infectar gansos. No Brasil, há registro de casos em animais silvestres desde 2023.
É seguro consumir carne de frango e ovos?
Sim. Comer produtos de um animal contaminado não transmite o vírus para humanos.
Humanos podem ser contaminados?
A forma de transmissão da influenza é via gotículas aerossóis de espirros e fezes. Assim, há uma pequena chance de isso acontecer por meio do contato direto com animais vivos contaminados ou locais de criação. Humanos, no entanto, não correm risco de contágio a partir do consumo.
Outros animais podem ser infectados?
Nos Estados Unidos, já houve registro de infecção de bovinos, e pessoas contraíram a doença após contato com o gado. No Chile, houve contaminação de leões marinhos.
O que fez o governo brasileiro?
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) decretou emergência zoossanitária por 60 dias no município de Montenegro (RS). A pasta também trabalha no rastreio da produção do estabelecimento onde foi confirmado o caso.
Por que o vírus pode gerar embargos comerciais?
Os países têm políticas de suspensão de importações de lugares onde houve detecção de gripe aviária para evitar a entrada do vírus em zonas livres da doença.
A situação pode sair do controle?
Sim. Para a veterinária especialista em zoonoses Paula Giaffone, os Estados Unidos são um exemplo negativo. "Nos EUA, a situação está realmente complicada, o vírus se espalhou por granjas, atingiu rebanhos leiteiros e é encontrado até em testes de água, nos sistemas de distribuição de água."
Há reflexos para o consumidor?
A gripe aviária já levou ao sacrifício de mais de 120 milhões de aves nos Estados Unidos e é um dos principais fatores responsáveis pela alta no preço dos ovos no país.
(*Com informações da Folhapress)